Sair de uma, entrar em outra

calle-mojada

Este ano não até agora não pudemos nos banhar no primeiro aguaceiro de maio. A seca em Havana nos tirou essa chuva que a tradição popular relaciona com a boa sorte. As mangas que pendem dos galhos parecem aguardar a chegada de um temporal e ficarem prontas, desse modo, para nossas bocas. Fendas na terra, flamboyants que apenas têm flores e esse pó pegajoso no ar que só irá quando começar a chover copiosamente. Como anseio o “chin-chin” na janela, o odor de umidade, as gotas que ficam nas folhas das árvores depois de um temporal.

Embora o pior seja o vazio dos encanamentos, o fiozinho entrecortado que sai das torneiras e os vizinhos do lugar carregando água em baldes porque o aqueduto tem reservas apenas para se bombear. As caras suadas, as camisas com odores fortes e os varais quase vazios porque o precioso líquido não chega. Não te demores no banho! Grito para Reinaldo com o fim de evitar que o tanque que temos na varanda vá ficar seco. Enquanto que a cisterna do edifício torna-se um charco triste, que somente as mangueiras das pipas conseguem fazer superar seu limite mínimo.

E por cima de tanta secura a convicção de que este ano os resultados agrícolas possam ser piores que os anteriores, se não chover de uma vez por todas. Já veremos os titulares (do poder) dizendo na imprensa que a produção de bananas decresceu, que o arroz não resistiu a aridez e que os pomares foram os mais afetados. E esta sensação de que sempre há algo para que o afortunado prato não se encha e os salários não alcancem. Seja por má gestão, por falta de estímulo material aos camponeses ou pela chuva insensível que nos nega obstinadamente, hoje, seus favores.

Traduzido por Humberto Sisley de Souza Neto

Deixe um comentário