Venezuela, com os olhos abertos

Foto tomada de http://runrun.es/diploos/103467/editorial-la-nacion-venezuela-protestas-tragicas.html

Dizem que ninguém é castigado pelas faltas alheias, que repetimos os erros dos outros e tropeçamos, de vez em quando, na mesma pedra. Os céticos afirmam que os povos esquecem que fecham os olhos para o passado e voltam a cometer descuidos iguais. A Venezuela, contudo, começou a desmentir essa fatalidade. Em meio a uma realidade marcada pela insegurança, o desabastecimento e a inflação, os venezuelanos tratam de corrigir um deslize que tem durado muito tempo.

Tomada pela inteligência cubana, monitorada da Praça da Revolução e governada por um homem que incita a violência contra os diferentes, esta nação sul-americana encontra-se agora ante o dilema mais importante da sua história contemporânea. Totalitarismo ou democracia são as opções. O que está sendo decidido em suas ruas não é somente a permanência de Nicolás Maduro no poder, mas sim a existência mesma de um eixo de autoritarismo e personalismo que atravessa toda a América Latina. Um sistema que se disfarçou com palavreado oco, no estilo de: “socialismo do século XXI”, “revolução dos humildes”, “sonhos de Bolivar” e “nova esquerda”, mas cujas características fundamentais são a ambição de poder dos seus líderes, a ineficiência econômica e a redução das liberdades.

Não obstante os estudantes venezuelanos têm dado ao chavismo uma dose do seu próprio remédio. O setor juvenil e universitário tem sido neste caso o motor impulsor dos protestos. O que evidencia que Miraflores perdeu a porção mais rebelde e dinâmica de uma sociedade. Mesmo que os titulares oficialistas falem de conspiração fomentada do exterior, basta olhar as imagens de policiais e comandos armados golpeando os manifestantes para se compreender de onde vem a violência.

A Venezuela vive momentos difíceis, como todo despertar. Os oligarcas de vermelho não abandonarão o poder voluntariamente e Raúl Castro não deixará que lhe tirem tão facilmente a “galinha dos ovos de ouro”. Porém ao menos sabemos que os venezuelanos não percorrerão o mesmo caminho que nos foi imposto em Cuba. A mansidão, o medo, a cumplicidade e a fuga como única saída… Foram nossos erros. A Venezuela não quer repeti-los, não pode repeti-los.

Tradução por Humberto Sisley