Sobreviver

Martha Beatriz Roque      Foto tomada de http://media.elnuevoherald.com/smedia/2012/09/16/21/52/XJ9rE.Em.84.jpeg

A luz é tênue, o quarto apertado e o sussurro de Santo Suárez passa pelas paredes. Sobre a cama há uma mulher magra com os ossos a mostra, com as mãos muito frias e a voz apenas audível. Martha Beatriz Roque se declarou em greve de fome faz uma semana. Eu cheguei até ela na pressa da cotidianidade e na pressa da informação; porém seu rosto tem a calma que o tempo e a experiência dão. Está ali, frágil como uma menina pequena que de tão leve se pode carregar e acomodar sobre minhas pernas. Surpreende-me a sua lucidez, o modo categórico pelo qual me explica porque se nega a tomar alimentos. Cada palavra que consegue pronunciar – de tão intensa – não parece sair daquele corpo diminuído pelo jejum.

Pensei que nunca mais iria ter que estar ante o leito de um grevista de fome. O falso otimismo de que todo tempo futuro tem que ser melhor me havia feito acreditar que Guillermo Fariñas com suas costelas a mostra e sua boca ressecada, seria o último dissidente que apelaria a inanição como arma de reivindicação. Porém dois anos depois daqueles 134 dias sem comer nada, volto a ver as órbitas vazias e a cor amarelada de quem se nega a comer. Desta vez somam-se 28 pessoas ao longo de todo o país e o motivo volta a ser o desamparo do indivíduo ante uma ilegalidade marcada pela ideologia. Devido à ausência de outros caminhos para requerer ao governo, os intestinos vazios se tornam como um método de reivindicação e rebeldia. Triste que só hajam nos deixado a pele, os ossos e as paredes do estômago para nos fazer escutar.

Antes de sair da casa de Martha Beatriz a aconselhei “tens que sobreviver, a este tipo de regime há que se sobreviver”. E me fui para a rua, envolta nesta culpa e nessa responsabilidade que cada cubano deveria sentir ante um fato tão triste. “Sobreviver, sobreviver” continuei pensando quando conversei com a família de Jorge Vázquez Chaviano que devia ser libertado em 9 de setembro e cuja imediata liberação é exigida pelos que fazem jejum. “Sobreviver, sobreviver”, ainda me repetia ao receber os informes de deterioração física de outros grevistas. “Sobreviver, sobreviver”, disse a mim mesma ao ver na televisão os rostos dos que neste país converteram a discrepância num delito e o protesto cívico numa traição. “Sobreviver, sobreviver, sobreviver a eles” prometi a mim mesmo. Porém talvez já seja muito tarde para consegui-lo.

Tradução e administração do blog em língua portuguesa por Humberto Sisley de Souza Neto

8 thoughts on “Sobreviver

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    A ditadura cubana libertou Jorge Vázquez Chaviano e a greve de fome do grupo de cubanos amigos, se encerrou.
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    Lamentável ver que que dezenas de pessoas sejam presas e que nenhuma das prisões são registradas e desta forma não se pode entrar na justiça para solicitar uma indenização ou qualquer outro tipo de ação.
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    Chega até ser irônico comemorar que as prisões tem sido temporárias ao invés de durarem décadas.
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    Mas, a seguinte frase está virando uma piada na internet.
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    Dice que cada vez más latinoamericanos tienen ‘internet libre’, pero ‘¡ninguno de ellos es cubano!’.
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    Um artigo no Diário de Cuba faz a seguinte declaração:
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    Blogueiro oficial, “envergonhado” pelo silêncio sobre o cabo de Internet.
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    http://www.diariodecuba.com/cuba/13093-bloguero-oficialista-avergonzado-por-el-silencio-sobre-el-cable-de-internet
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    Construíram o cabo submarino por equívoco.
    Deverá ser mais uma obra revolucionária que não vai dar certo, mas desta vez, de forma proposital.
    Talvez estejam tentando montar uma equipe de pessoas favoráveis a ditadura que possam “guerrear” pelo ciberespaço.
    Já criaram blogs contra este blog da Yoani, mas os achei bem ruinzinhos.

  2. Sobreviver…. Sobreviver….. Estes são os verdadeiros superheróis da atualidade cubana. Capazes de porem as respectivas vidas em risco, no afã de se livrar da TIRANIA dos “Castro” e desse anacrônico partido comunista cubano, que nada faz, senão levar o atraso, e institucionalizar privilégio para poucos na “ilha de Fidel”. É muito triste saber que um tirano não quer largar o poder. O “pequeno imperador dito revolucinário” toma conta da “ilha” como se prpriedade particular fosse, não respeitando o legado que o Estado Democarático de Direito nos deixou, ou seja, a liberdade política, econômica e a livre iniciativa. A busca da felicidade só se torna algo tangível quando se é livre para escolher, e, não por imposição. ABAIXO A TIRANIA… VIVA A DEMOCRACIA E O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO….! CUBA MERECE SER LIVRE…! Salve Yonai, o baluarte da resistência contra a ditadura e a voz viva do povo cubano que luta contra a opressão. Luciano Sant´Anna – Belo Horizonte – Minas Gerais – Brasil.

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    Mais uma jornalista do tabloide Granma entra nos Estados Unidos pelo México.
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    A jornalista tem apenas 28 anos e Fidel deveria colocar a redação do tabloide, “jornalistas” com mais de setenta, pois seriam mais confiáveis e revolucionários como ele.
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    Periodista del Granma se refugia en Miami
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    Mairelys Cuevas Gómez aprovechó un reciente viaje de trabajo a México para cruzar la frontera.
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    JUAN CARLOS CHAVEZ
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    La jefa de edición del diario oficial cubano Granma, Mairelys Cuevas Gómez, desertó hace una semana a Estados Unidos aprovechando un viaje de trabajo a México y está viviendo en Miami. De acuerdo con una información publicada por el sitio digital Café Fuerte, Cuevas, de 27 años, viajó a México con la aprobación de la dirección ejecutiva del diario y con pleno conocimiento de funcionarios y la élite del gobierno cubano que, a su vez, controla la prensa oficialista.
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    La deserción de Cuevas constituye un nuevo golpe a la estructura propagandística e informativa del régimen. En meses recientes al menos cuatro talentos e integrantes del periodismo cubano decidieron pedir refugio en Estados Unidos y el Reino Unido.

    Como Cuevas y Murillo miles de cubanos llegan a Estados Unidos cada año por tierra desde México. Después se presentan a las autoridades fronterizas estadounidenses para acogerse a la política de pies secos, pies mojados.
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    Una foto publicada el martes en la página de Cuevas en Facebook muestra a la joven sonriente y muy relajada en el popular centro comercial de Bayside, en el downtown Miami.
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    (Continua)
    http://www.elnuevoherald.com/2012/09/21/1305455/periodista-del-granma-se-refugia.html
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    O Facebook está se tornando um incômodo site para a ditadura cubana.
    Pois basta alguém fugir da ilha socialista, para logo subir uma foto no Facebook toda sorridente, foto tirada em algum lugar da Flórida.

  4. Do twitter da Yoani.
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    “Reloj de arena” un texto mio en #GY sobre la constante perdida de simpatizantes del gobierno cubano http://goo.gl/454hD
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    Aproveito o texto de março de 2009 que não é muito extenso e colo abaixo uma tradução livre, com observações minhas em parenteses.
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    Ampulheta
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    Todos os dias eu me deparo com alguém que ficou desiludido e retirou o seu apoio ao processo cubano. Algumas pessoas entregam a sua ficha de registro do partido comunista, migram com suas filhas que se casaram na Itália ou se concentram no plácido trabalho de cuidar de seus netos e de fazer fila do pão. Passam de delatar a conspirar, de vigiar a corromper e até mesmo mudam da Radio Rebelde (rádio oficial) para a Radio Martí (rádio da Flórida).
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    Toda esta conversão lenta em alguns – vertiginosa em outros, percebi ao meu redor como se sob o sol da ilha, milhares tivessem mudado a cor da pele. No entanto, este processo de metamorfose ocorre apenas em um sentido. Não tenho encontrado um só – veja que conheço gente, que tenha caminhado da descrença para a lealdade, que começa a confiar nos discursos, depois de anos de críticas.
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    A matemática nos confronta com verdades infalíveis: aumenta o número de insatisfeitos, mas o grupo que os aplaudem não ganham novas “almas”. Como uma ampulheta, todos os dias centenas de pequenas partículas vão parar justo do lado contrário, de onde sempre estiveram.
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    Caem sobre o montículo formado pelos céticos, pelos excluídos e pelo imenso coro dos indiferentes. E não a retorno para o lado da confiança, porque não existe nenhuma mão para dar volta ao relógio, colocou-se para baixo o que hoje está definitivamente embaixo. O tempo da multiplicação ou da adição já passou a algum tempo, hoje o ábaco apenas realiza a subtração, pois marca a interminável fuga para um só lado

  5. Editora-chefe do “Granma” deixa Cuba e pede asilo nos EUA, segundo blog
    21 de setembro de 2012 • 19h10

    A editora-chefe do jornal cubano “Granma”, Mairelys Cuevas Gómez, deixou Cuba e se mudou para Miami, onde pediu asilo às autoridades americanas, informa nesta sexta-feira o blog “Café Fuerte”.

    Efetivamente, a única pessoa com perfil no Facebook com esse nome aparece em sua foto principal nesta rede social em frente a um parque desta cidade do sul da Flórida.

    Ainda segundo o blog, Mairelys, de 27 anos, chegou no domingo passado aos EUA após atravessar a fronteira com o México, onde tinha viajado como convidada a um ato, e imediatamente pediu asilo às autoridades americanas.

    Embora a jovem tenha negado uma entrevista ao blog, este divulga o testemunho de um ex-companheiro da jovem em Cuba sobre o “escândalo” gerado no país caribenho por esta notícia. O blog também publicou declarações de uma amiga de Mairelys que vive em Miami e disse

  6. O próximo a pedir asilo nos EUA poderá ser o Gran chefete Raul.O regime cubano comunista está se derretendo mais rápido do que as geleiras dos pólos.

  7. O rápido esfacelamento do regime ditatorial dos castro’s está seguindo os passos da derrocada econômica dos EUA. Quanto mais pobre os EUA, mais miserável o estado cubano.

  8. Ferreira Gullar: “Quando ser de esquerda dava cadeia, ninguém era. Agora que dá prêmio, todo mundo é”

    Ferreira Gullar tem 82 anos. É raro haver quem não o considere o maior poeta vivo da língua portuguesa e um dos grandes da literatura contemporânea. Já foi militante de esquerda, filiado ao Partido Comunista Brasileiro, mas se rendeu à realidade. Concedeu uma entrevista de impressionante lucidez a Pedro Dias Leite, nas Páginas Amarelas de VEJA. Leia trechos.

    O senhor já disse que “se bacharelou em subversão” em Moscou e escreveu um poema em que a moça era “quase tão bonita quanto a revolução cubana”. Como se deu sua desilusão com a utopia comunista?
    Não houve nenhum fato determinado. Nenhuma decepção específica. Foi uma questão de reflexão, de experiência de vida. de as coisas irem acontecendo, não só comigo, mas no contexto internacional. É fato que as coisas mudaram. O socialismo fracassou. Quando o Muro de Berlim caiu, minha visão já era bastante crítica. A derrocada do socialismo não se deu ao cabo de alguma grande guerra. O fracasso do sistema foi interno. Voltei a Moscou há alguns anos. O túmulo do Lênin está ali na Praça Vermelha, mas, pelo resto da cidade, só se veem anúncios da Coca-Cola. Não tenho dúvida nenhuma de que o socialismo acabou, só alguns malucos insistem no contrário. Se o socialismo entrou em colapso quando ainda tinha a União Soviética como segunda força econômica e militar do mundo, não vai ser agora que esse sistema vai vencer.

    Por que o capitalismo venceu?
    O capitalismo do século XIX era realmente uma coisa abominável, com um nível de exploração inaceitável. As pessoas com espírito de solidariedade e com sentimento de justiça se revoltaram contra aquilo. O Manifesto Comunista, de Marx, em 1848, e o movimento que se seguiu tiveram um papel importante para mudar a sociedade. A luta dos trabalhadores, o movimento sindical, a tomada de consciência dos direitos, tudo isso fez melhorar a relação capital-trabalho. O que está errado é achar, como Marx diz, que quem produz a riqueza é o trabalhador,e o capitalista só o explora. É bobagem. Sem a empresa, não existe riqueza. Um depende do outro. O empresário é um intelectual que, em vez de escrever poesias, monta empresas. É um criador, um indivíduo que faz coisas novas. A visão de que só um lado produz riqueza e o outro só explora é radical, sectária, primária. A partir dessa miopia, tudo o mais deu errado para o campo socialista. (…) O capitalismo não é uma teoria. Ele nasceu da necessidade real da sociedade e dos instintos do ser humano. Por isso ele é invencível. A força que torna o capitalismo invencível vem dessa origem natural indiscutível. Agora mesmo, enquanto falamos, há milhões de pessoas inventando maneiras novas de ganhar dinheiro. É óbvio que um governo central com seis burocratas dirigindo um país não vai ter a capacidade de ditar rumos a esses milhões de pessoas. Não tem cabimento.

    O senhor se considera um direitista?
    Eu, de direita? Era só o que faltava. A questão é muito clara. Quando ser de esquerda dava cadeia, ninguém era. Agora que dá prêmio, todo mundo é. Pensar isso a meu respeito não é honesto. Porque o que estou dizendo é que o socialismo acabou, estabeleceu ditaduras, não criou democracia em lugar algum e matou gente em quantidade. Isso tudo é verdade. Não estou inventando.

    E Cuba?
    Não posso defender um regime sob o qual eu não gostaria de viver. Não posso admirar um país do qual eu não possa sair na hora que quiser. Não dá para defender um regime em que não se possa publicar um livro sem pedir permissão ao governo. Apesar disso, há uma porção de intelectuais brasileiros que defendem Cuba, mas, obviamente, não querem viver lá de jeito nenhum. É difícil para as pessoas reconhecer que estavam erradas, que passaram a vida toda pregando uma coisa que nunca deu certo.

    (…)
    Como se justifica sua defesa da internação no tratamento da esquizofrenia?
    As pessoas usam a palavra manicômio para desmoralizar os hospitais psiquiátricos. Internei meu filho em hospitais que têm piscina, salão de jogos, biblioteca. Mesmo os públicos não têm mais a camisa de força ou sala com grades. Tive dois filhos esquizofrênicos. Um morreu, o outro está vivo, mas não tem mais o problema no mesmo grau. Controlou com remédio, e a idade também ajuda. A esquizofrenia surge na adolescência e se junta à impetuosidade. Com o tempo, a pessoa vai amadurecendo. Doença é doença, não é a gente. Se estou gripado, a gripe não sou eu. A esquizofrenia e’ uma doença, mas eu não sou a esquizofrenia. Posso evoluir, me tornar uma pessoa mais madura, debaixo de toda aquela confusão. O esquizofrênico com 50 anos não é o mesmo de quando tinha 17.
    (…)

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