O rádio com que me presentearam no meu último aniversário dormita – cheio de poeira – numa estante. Para que ligá-lo se posso escutar apenas frivolidades. Nem sequer as emissoras nacionais são bem ouvidas nesta zona cheia de altos ministérios e antenas usadas para obstruir as transmissões de ondas curtas que entram no país. Eu, com a ilusão de poder escutar a Deutsche Welle para manter vivo o idioma alemão e o alto falante emitindo um zumbido no lugar do esperado “GutenTag”.
Vivemos nesta ilha em meio a uma verdadeira guerra de freqüências de rádio. Por um lado a emissora chamada Radio Martí que é transmitida dos Estados Unidos, proibida, porém muito popular entre meus compatriotas e, por outro lado, os zumbidos utilizados para silenciá-la. Dos receptores vendidos nas lojas oficiais são extraídos os módulos que permitem ouvir as emissões estrangeiras e a polícia tem prática em detectar os artefatos que ajudam a captar melhor esses sinais nos telhados.
Porém dentro das casas a gente procura o lugar, seja numa esquina, perto de uma janela ou pegado no teto, onde o rádio consegue parar de emitir o apito das insuportáveis interferências. É comum ver alguém esticado no chão enquanto localiza o ponto exato no qual a programação local fica sobreposta por essa outra que nos chega de fora. Não importa o que estejam transmitindo do outro lado, não importa sequer se é um aborrecido programa musical, um noticiário em inglês ou a metereologia de outro lugar do mundo. O que se torna um bálsamo para os ouvidos é que soa diferente, que se distancia dessa mistura de palavras de ordem e prosa sem liberdade que a cada dia a rádio cubana transmite.
Traduzido por Humberto Sisley de Souza Neto